sexta-feira, 31 de julho de 2009

Segunda - feira de manhã

Era segunda de manhã e estava um belo dia para passear na cidade. Dei as minhas voltinhas do costume: fui ali, fui acolá, encontrei aquele, vi aquela. Um dia bem normal.
Continuei a caminhar pela cidade ate que dei por mim, à frente da biblioteca municipal onde, há muito tempo, já não passava por lá. Entrei, disse bom dia com toda a pujança da minha alegria e mal entrei na porta principal da biblioteca, senti o cheiro dos livros. Aquele cheiro a livro cheio de conhecimento, cheio de sabedoria que, a maior parte deles, vão ser esquecidos para todo o sempre e não vão receber, assim, o devido valor.
Dei uma vista de olhos, descendo as escadas, nas pessoas que se encontravam sentadas a ler os livros ou mesmo os jornais do dia. À medida que ia caminhando, ia passando o meu dedo indicador pela lombada dos livros sabedores. “Como eu gosto de fazer isto.”, pensava eu, cada vez que fazia tal gesto. Este simples gesto fazia com que a cultura que estava entranhada nos velhos livros, passasse para mim através dos meus dedos. E mais uma razão, ao fazer o gesto, parecia que ao passar somente o dedo, saía da biblioteca com mais ciência sobre a vida, sobre a minha existência. E isso ajudava-me muito.
Sentei-me, com o meu livro sobre a mesa e comecei a folheá-lo à procura da página onde tinha terminado a leitura. O livro era, basicamente, a mesma história de sempre: uma rapariga que encontra o homem da sua vida e que mais cedo ou mais tarde, consegue-o conquistar. Era daquelas histórias banais mas, que eu gostava de ler para passar o meu tempo.
Enquanto estava a ler o meu livro atenciosamente, reparo que algumas pessoas que estavam tranquilas a ler, quando eu entrei, agora estavam um bocado incomodadas com a presença de uma pessoa: de um sem - abrigo. Comentavam que ele tinha um cheiro muito intenso, muito forte mas que, estava sossegado com um livro à sua frente. Como não me sentia incomodada com a presença dele, deixei-me estar e voltei à minha leitura.
Mais tarde, reparei que o sem – abrigo saí do seu lugar e se levantava. À medida que ele se deslocava, apercebo-me que ele vem na minha direcção com o livro na sua mão.
Chegando ao lugar onde eu estava, aponta para mim. Eu, desorientada, viro-me para trás para ver se estava a apontar para mim ou para outra pessoa. Como não estava ninguém atrás, suspeitei que ele estava a apontar realmente para mim. Sentou-se ao pé de mim e aí é que verdadeiramente reparei, que o senhor não cheirava muito bem. Com preocupação, deixo-o ficar sentado mas afastei-me um bocado dele. E então ele disse:
- “Não tenhas medo. Não te vou fazer mal.” - Eu limitei-me a ficar calada. – Olá. Chamo-me José. E tu?”
- “Porquê que quer saber?” – Perguntei eu.
- “Porque quero tratar-te pelo teu nome. Mas pronto, se não me dizes vou arranjar um nome para ti. Vais ser a … A Rapariga da Biblioteca.” – disse ele.
- “Chamo-me Rita.”
- “Rita? Gosto mais desse nome. Prazer menina Rita.”
-“ Prazer Senhor José. Mas deixe-me que faça uma pergunta, porquê que veio ter comigo?”
- “A verdade é que… queria que me lesses uma coisa.”
- “Pois… até parece que não sabe ler.” E virei-lhe as costas.
- “Por acaso não. Por acaso não sei ler.”
No fim do senhor José ter dito o que disse, senti-me envergonhada por ter dito tais palavras.
- “Peço desculpa mas… não sei o que dizer.”
- “Oh, não tens que pedir desculpas nenhumas, Rita. O problema não é teu. É meu.” – riu-se.
- “Eu sei. Só que…”- continuava embaraçada.
- “Ponto já passou.”
-“ Então e o que quer que eu lhe leia, senhor José?”

A medida que fomos conversando, no meio da leitura, apercebi-me que o senhor José era um homem como todos os outros. Têm as suas fraquezas mas, também têm as suas forças.
Contou-me que já foi um homem com muita riqueza mas que, a maior riqueza que a vida deixou-lhe foi a sua vida. E não troca por nada deste mundo.
Ficamos horas e horas a falar enquanto eu, por vezes, lia-lhe o livro que ele tinha na mão quando veio ter comigo. Por mais coincidências que possa haver, era o mesmo livro que eu estava a ler, daquela história banal que eu vos contei no inicio.
Combinámos encontrarmos mais vezes na biblioteca para eu lhe ler mais umas histórias ou quem sabe, as noticias do dia. Mas o senhor José preferia que eu lhe lesse livros em vez de notícias. Dizia que “havia muitas tristezas por esse mundo fora”. A verdade é que tinha razão, então ficávamos só pelos livros.
Passou um mês, dois, três e é então que me apercebo que já lhe tinha contado mais sobre a minha vida, que eu alguma vez poderia imaginar. Gostava de falar com ele, ensinava-me coisas que a vida ensina pelas próprias mãos, dava-me conselhos, riamos os dois, e, claro, continuava a ler para ele.
Um dia, o senhor José diz para irmos dar um passeio pela zona histórica da cidade. Eu concordei e então começamos a vaguear a cidade. Explicou-me realidades que eu desconhecia, desenvolveu factos que eu jamais pensava existir na minha cidade. Até que eu disse:
- “Fogo, você é como os livros da biblioteca: sabe tudo.”

quarta-feira, 29 de julho de 2009

PETA - People for the Ethical Treatment of Animals




















"Animals are not ours to eat, wear, experiment on, or use for entertainment!"

O HOMEM É O ÚNICO ANIMAL!

sábado, 27 de junho de 2009

Saudade

Diz alguém que a despedida
Nada custa ao coração;
Quem tal diz que se despeça,
E verá se custa ou não.

(...)

Nesta cruel despedida,
Diz, amor, que hei-de fazer;
Levar-te não é possível,
Deixar-te não pode ser.

Meu amor na despedida
Nem uma fala me deu;
Deitou os olhos ao chão
Ficou a chorar mais eu.

(...)

Como o vento é para o fogo;
É a ausência para o amor:
Se é pequeno, apaga-o logo;
Se é grande, torna-o maior.

Desgraçado malmequer,
Onde vieste nascer.
Aonde não há saudades,
Não pode haver bem-querer.

Ao Penedo da Saudade
Todos se vão recordar,
Todos dizem: bem me lembro!
Todos voltam a chorar.

Se fossem pedras as lágrimas
Que eu por ti tenho chorado,
Já formavam um castelo
No centro do mar salgado.

A pena do meu martírio
Mais cruel não pode ser:
Ter boca não te falar,
Ter olhos e não te ver.

(...)

Quem disser que a vida acaba,
Digo-lhe eu que nunca amou;
Quem morre e deixa saudades
Nunca a vida abandonou

(...)

Já morri, já me esqueci,
E agora já estou aqui;
Nem a terra me comia,
Sem me despedir de ti.



Jaime Cortesão
(quadras populares)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Beyoncé - Smash into you







18.05.09, Memorável!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Realidade Valiosa

Numa destas noites primaveris, decidi sair de casa para dar uma volta pela cidade. Estava uma noite agradável e eu estava em casa sem fazer nada. Levei um pequeno casaco, quando saí, pensando eu que estava agasalhada. Enquanto ia andar, reparei que a cidade estava deserta. Não tinha alma viva. Ou se tinha, não vi ninguém.
A medida que ia a caminhar, a minha mente estava completamente vazia. Não tinha nenhum pensamento, nenhuma imagem, nada. Não tinha nada. Tinha decidido que, ao sair de casa, os problemas ou acontecimentos menos bons, ficavam lá. Aquela noite era minha, era só para mim.
Continuei o meu caminho a pensar em… sinceramente não me lembro. Mas o mais certo era não estar a pensar em nada. E mesmo que eu quisesse pensar em alguma coisa, não conseguia porque estava aborrecida. Entretanto, ouvi de um prédio onde eu estava a passar, alguém a tocar piano. O som era fraco, não se ouvia muito bem. Olhei para cima, e reparei que aquela entoação vinha do último andar desse mesmo prédio e, decidi subir até lá em cima.
A medida que subia, o som tornava-se mais forte. Quando cheguei á porta de onde vinha o som, fiquei imóvel. A música era bem melhor do que eu estava a ouvir á entrada do prédio. Olhei em volta á procura de alguma porta que desse para o terraço que havia em cima, porque não ia ficar á porta de casa do suposto “músico”. Encontrei! Fui em direcção a ela. Estava aberta. Suspirei de alívio. Abri a porta misteriosa, e subi as longas escadas que davam para o terraço. Quando pisei o ultimo degrau, só me veio uma palavra á boca “Wow!”. Era lindo. Via-se a cidade toda iluminada. Via a praça, via a minha escola, via a minha casa. Via tudo. A vista era absolutamente fantástica.
Quando parei de contemplar aquela vista, apercebi-me que a música ainda estava ali, ao pé de mim. Olhei em volta e reparei que aquele espaço estava arrumado. Parecia que alguém vinha todos os dias limpar e arrumar aquele lugar. Tinha vários bancos e tinha algumas flores espalhadas pelo grande terraço. Era um sítio acolhedor e gostei daquele espaço desde logo.
Fui em direcção a um banco e sentei-me a observar a cidade enquanto a melodia entrava nos meus ouvidos e ficava durante um tempo dentro da minha cabeça que, continuava a estar vazia. Enquanto a música ainda durava, lembrei de dançar um pouco. Quer dizer, não estava ninguém comigo no terraço, não estava ninguém a ver, logo confrontei-me com esse meu desejo.
Então desafiei-me a mim própria a seguir a música com os meus dotes de bailarina. Levantei-me do banco de onde estava, fechei os olhos e simplesmente segui a doce melodia com uns simples passos. Naquele momento, senti a música a entrar no meu corpo como agua fluida e tudo o que me lembro a seguir, foi de eu a dançar naquele lugar mágico, debaixo de um céu estrelado que estava propicio á fantasia, onde a música entrava nos meus ouvidos e fazia-me sentir grandiosa. No fim de a música acabar, parei e desejei voltar aos palcos, desejei receber as palmas do público e brilhar. Brilhar a fazer o que eu gosto, que é Dançar. Sentei-me novamente no banco e senti-me bem comigo própria. Agora sim. Agora já sabia o porque de ter saído de casa, o porque de a minha cabeça estar sem pensamentos, sem ideias. Tinha saído de casa, para saber o que é importante para mim. Para saber o que me mantém viva: a Dança!

sábado, 25 de abril de 2009

Expresso

Estava decidida a sair de casa na manhã do dia seguinte. Pensei “O que pode correr mal, Rita?”. A isto, o meu instinto respondeu “Nada. Sê livre!”. Bem, para dizer a verdade, o meu instinto não me respondeu (como é lógico) mas, alguma coisa dentro de mim me dizia para pegar o expresso de manhã bem cedo. Assim fiz. Acordei bem cedo no dia seguinte, tomei um bom banho, comi o meu super pequeno-almoço, guardei os meus mantimentos para o resto do dia e verifiquei se tudo estava em ordem dentro da mala. Chamei um táxi para me vir buscar a casa e, para minha surpresa, consegui fazer tudo isto sem acordar ninguém de casa, o que me deu mais ânimo para concretizar esta minha aventura.
Cheguei á gare e, rapidamente apanhei um expresso. Não tinha ideia para onde me dirigia. A única coisa que sabia era que, queria um tempo para mim. Sei lá, no dia anterior deu-me uma vontade de sair de casa, de conhecer pessoas novas, de (tentar) compreender outras vidas sem ser a minha, de me sentir, nem que fosse por um dia, livre. Sentir que também posso ter a minha liberdade. Percebem? Então assim fiz.
No caminho para o desconhecido, tirei os meus phones da minha mala, coloquei-os nos ouvidos e comecei a ouvir música. De seguida, pus o volume no máximo e virei-me para a janela para ver se conhecia a paisagem. Houve momentos, em que fui puxada para acontecimentos recentes que, sinceramente, não mereciam atenção, então sacudi a cabeça de modo a que esses pensamentos se afastassem. Durante a viagem, reenviei as minhas ideias para casa. Estava a ver se conseguia visualizar mentalmente as reacções dos meus pais, quando descobrissem que não estava em casa ou, então, estava mesmo a tentar arranjar uma desculpa para dizer aos meus pais, para me tentar desculpar por causa desta simples aventura.
Tinha chegado. Colocado o meu pé fora do expresso no incógnito local, senti logo um ar diferente ao da minha cidade. E esse ar tinha um nome: Liberdade. Liberdade fresquinha. Sim, porque ainda era de manhã. Tirei de imediato a minha preciosa máquina para retratar qualquer coisinha que me deslumbrasse, para mais tarde me recordar deste dia fantástico. Reparei que existia ali perto um pequeno parque. Dirige-me até lá e sentei-me num banco de madeira perto de uma árvore. Fechei os olhos, e senti o vento a passar-me na cara, a entrar por entre os meus longos cabelos encaracolados e fazendo, com que estes, esvoaçassem parecendo uma dança. De repente senti, novamente, alguém a sentar-se a meu lado. Abri os olhos, olhei para o meu lado direito e deparei-me com uma mulher que, visivelmente não era portuguesa. Era romena ou lá para esses lados. Tinha vestido um traje todo preto onde o lenço combinava com a indumentária. Tinha há volta de 60 anos e isso verificava-se pelas suas feições faciais. Parecia-me que estava sozinha no mundo, que não tinha ninguém para falar. Logo que me viu a olhar para ela, pegou-me na mão. Eu como não tive oportunidade para a tirar e vi que a senhora era de bem, deixei estar a minha mão sobre a dela. Começou a verbalizar sussurrando umas palavras que claramente não eram portuguesas. Começou a traçar linhas na palma da minha mão começando, cada vez mais, a olhar para mim. Reparei logo que era daquelas mulheres que se diziam ler o futuro. Sempre quis que me fizessem isso, por isso, este desejo foi mais um motivo para deixar a minha mão, na mão dela.
Primeiramente, disse que tinha a linha da vida comprida o que era bom sinal, a do amor também comprida mas mesmo assim, mais curta que a da vida e a da cabeça, do comprimento normal. Depois disse que a minha vida, ate agora, tinha sido boa, favorável, e eu acenei com a cabeça dizendo que sim. Depois quando foi, novamente, ler a linha do coração a sua expressão mudou. Disse que no amor tinha algumas dificuldades (eu ate ai já tinha percebido) mas que a linha da vida compensava tudo isso. No fim, de a mulher ter dito isto, dei por mim a pensar nos meus pais, na minha irmã, na minha família, nos meus amigos e ate nos meus animais de estimação, e reparei que, realmente tenho uma família muito boa e uns amigos também muito bons. E que até agora, isso era o mais importante da vida. A mulher continuou a ler a palma da mão, ate que disse:
-“Sabes, podes ter a linha do amor menos comprida que a da vida, mas esta ultima compensa todas as outras.” – disse ela com um sotaque que eu não consegui aclarar.
- “Sim, eu sei. Tenho uma óptima família e amigos que me ajudam a passar por todos os maus momentos da vida. E claro que isso cobre tudo o resto.” – disse eu verdadeiramente.
Ela acenou com a cabeça a afirmando que tudo o que eu tinha acabado de dizer era verdade.
Olhei para o relógio e verifiquei que já tinha passado algum tempo e eu queria desvendar os segredos daquele local. Pensei levantar-me e começar a descobrir cada canto daquele parque mas, de seguida, olhei para aquela mulher e pensei “Será interessante ouvir o que ela tem para me dizer. Ou ao contrario.” E sendo assim, poisei no chão a minha mala e deixei-me estar sentada no banco a ouvir a voz sábia daquela senhora. E digo-vos, deixei-me ficar porque, as vezes basta falar com alguém que não nos conhece ou que não conhecemos, para ficarmos consideravelmente aliviados. Porque assim, será tudo mais fácil. Porque afinal de contas, eles não nos podem julgar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

(...)



“ (…) Ain't gotta be afraid, my broken heart is free to spread my wings and fly away (…)”

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Estranho? Não.

Escuro. Tudo o que vejo á minha volta é escuro. A porta esta fechada e, a única luz que entra neste meu quarto, entra pela fechadura. As janelas estão igualmente fechadas. Mas desta vez, não entra luz entre os pequenos buracos destas. Estranho? Sim.

Sento-me no chão desprotegido e, abrigo-me no meu canto. Abraço-me e peço para ninguém entrar neste meu pequeno mundo. Aqui, ninguém me fará mal; Aqui, ninguém me vai ferir; Aqui, sou eu quem manda. Aliás, sou eu sempre quem manda aqui. Estranho? Não.

Fecho os olhos, e tudo o que vejo, são vultos a caminharem em minha direcção. Em estado de aflição, ponho as mãos a cabeça e grito bem alto para estas faces provocadoras, saírem de ao pé de mim. Pelo contrário, estas se continuam a mover para a minha dianteira. Empurro-os, mas é em vão. Eles apoderam-se (sempre) de mim. Estranho? Sim.

Antes era eu quem mandava. Agora não. Antes eu tinha as minhas próprias ideias. Agora, não. Antes eu conseguia sair deste meu mundo num abrir e fechar de olhos. Agora, cada vez mais, é mais difícil de tal coisa se concretizar. Antes era eu quem fazia os meus próprios medos. Agora são eles que me fazem a mim. Estranho? Sim.

Peço ajuda mas ninguém vem em meu socorro. Por momentos deixo que estes monstros se alimentem de mim e me tirei a alma, o espírito, a vida. No instante seguinte, revoltasse dentro de mim um ser mais poderoso que estes assombros. Consigo me erguer do meu canto oculto e fazer frente a todos os outro seres. No fim, olho orgulhosa em volta e vejo os que me quiseram ridicularizar, deitados, bem deitados no chão que antes era desprotegido. Agora, de novo, sou eu quem manda aqui! Estranho? NADA!!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Quarto Escuro

Naquele dia, á noite, o meu quarto estava soberbamente escuro. Eu notei que tinha algo de errado, só que, não me incomodei. Pensei que o errado estava na minha cabeça. Enganei-me!
Mais tarde, no fim de fazer tudo o que tinha para fazer, deitei-me e notei que a minha cama estava mais fria que nos outros dias. Pensei:”É do tempo”, e virei-me para o outro lado, sabendo que, ainda, havia alguma coisa de errado naquele espaço.
Quando estava no meu segundo sono, acordei sobressaltada sentindo que alguém me tinha acordado de uma maneira pouco invulgar. Acendi a luz do meu quarto e segui ate ao corredor. Como era de esperar, não havia nada de mal. Mas mesmo sem ver nada, sabia que alguma coisa não batia certo.
Voltei para a cama e tentei adormecer. Quando estava quase a adormentar, senti uma brisa gélida como que se alguém tivesse a soprar para a minha direcção. Pus-me, literalmente, por baixo dos lençóis e afastei a ideia de ter mais alguém no quarto, sem ser eu.
No fim de acordar, novamente, com a tal brisa fresca no meu rosto decidi fervorosamente acender, outra vez, o candeeiro para verificar a tal sensação estranha. Mais uma vez não vi nada. Ao repetir o movimento de ir em direcção á minha cama, vi um vulto. Fiquei imobilizada. O meu instinto foi chamar alguem, só que, para meu pavor, não conseguia abrir a boca para respirar quanto mais para gritar por socorro.
A imagem vinha na minha direcção. Cada vez mais perto, cada vez mais nítida. Ao se aproximar, averiguei que o tal vulto tinha semelhanças com uma certa pessoa. Ainda não sabia com quem, mas ao mesmo tempo que se aproximava eu verificava que essas semelhanças eram de uma pessoa que eu conhecia bem e há bastante tempo. Essas parecenças eram… minhas!
Ao constatar essa situação, fiquei ainda mais paralisada do que eu já estava. O cabelo, as mãos, a estrutura era tudo igual a mim. Só a única coisa que não era idêntico eram os olhos. Os olhos dela, ou melhor do vulto, eram tristes. Estavam vazios, cheios de tristeza profunda. Estava com um ar pálido, parecia que ia a desmaiar a qualquer instante.
Eu, no fim do nervosismo passar, perguntei:
- “O que és tu? Ou melhor, quem és tu?”
- “ Não me estas a reconhecer?”
- “Sim estou. Tu és… eu??”- eu nem queria acreditar que tinha dito tal coisa.
- “Sim sou tu, mas com uma feição mais amarga.”
Eu não quis acreditar que eu estava a falar com uma “pessoa” igualzinha a mim, ou melhor, eu estava a falar comigo própria!?
- “Ok, se tu és eu porque que estas aqui?” – perguntei eu a mim mesma.
- “ Estou aqui para te provar que toda a gente tem um lado menos bom e que tu não és excepção”.
Desde o momento que comecei a falar com “ela”, eu não quis acreditar. Afinal a estranheza que eu senti desde inicio era verdadeira. Era tudo causado pelo aquele outro eu.
No fim de estar a falar com aquela criatura, se é que posso chamar assim, reparei que “ela” não era prejudicial. Simplesmente queria falar com alguém, desabafar, contar os seus problemas. Todas as pessoas precisam disso. No entanto, eu sabia que “ela”me queria contar alguma coisa mas que não conseguia.
- “Queres me contar alguma coisa?”
- “Como é que sabes?”
- “ Não te esqueças que tu és eu ou eu sou tu. Já não sei. E que quando quero contar alguma coisa, trinco o lábio e não paro de abanar o pé. E tu estas a fazer exactamente isso.”
- “Pois…” – diz “ela” a sorrir – “É assim, eu vim aqui ter contigo, para te dizer uma coisa.”
- “Sim…”
- “Bem, eu sou o teu futuro.”
- “És o meu futuro? Como assim?”
- “Eu sou tu daqui a alguns anos.”
- “Deixa ver se percebi, eu vou estar assim, como tu, daqui alguns anos?”
- “Sim vais. Vão acontecer coisas que vão mudar a tua maneira de ser, a tua maneira de agir. Mas tu podes mudar isso.”
- “Posso? Como?”
- “Isso eu já não sei. Já não me compete a mim.”
- “Então porque que me estas a dizer isso?”
- “Porque tu ainda podes mudar o teu futuro. Podes pensar nas consequências dos teus actos, e assim muda-los. Ainda que, no passado não podes mexer. Tens que viver com o que fizeste. Por isso é que te estou a avisar, por isso é que vim ter contigo para não seres como eu.”
-“ Já percebi. Mas o que é que vai acontecer?”
- “Isso não sei. Já te disse. Só sei que podes e tens que mudar o teu futuro. Pensa muito bem no que vais fazer, nas atitudes que vais tomar. Porque só assim é que vais ter o teu futuro garantido.”
No fim de “ela” ter dito isto, virei-me e, quando voltei a posição inicial, “ela”, tinha desaparecido como um fechar de olhos. Procurei-a dentro do meu quarto enquanto pensava no que ela tinha dito, pois na vida real isto era impossível de acontecer.
De seguida, abri os olhos e reparei que o despertador do telemóvel estava a tocar e foi quando constatei que tinha sido uma fantasia. Uma fantasia onde a nossa consciência, quando nós não a queremos ouvir, se encaixa nos nossos sonhos para nos fazer voltar a realidade. E assim, cada vez que eu tenho que tomar alguma decisão, penso na outra Rita e como ela era/é. Penso que não quero ter aquele ar de abatimento como “ela” tinha; Não me quero sentir como ela se sentia.

O teu futuro é feito por TI!

sábado, 28 de março de 2009

(Sem título)

Naquele dia, estava significativamente de mau humor. Não sabia porquê ou desde quando. Simplesmente estava com má disposição e, não me apetecia ver, ouvir ou falar com ninguém. Queria estar sozinha. Apenas isso.

Fechei a porta do meu quarto, abri a sacada da minha varanda e, sentei-me no meu puff transparente para me distrair um bocado. Olhei para o horizonte, para aquela linha fina que delimita a realidade e o sonho, e vi que na pequena pista do aeródromo estava a descolar uma avioneta. Era uma avioneta normal, de cor vermelha com umas riscas brancas em ambas as asas. Sabia que, aquela avioneta que estava sempre a esvoaçar por aquele meu céu, era uma avioneta vulgar, igual às outras. Só que naquele momento, o tal avião de pequenas dimensões, parecia que tinha algo mais. Deparei-me que aquele pequeno ponto vermelho sobre o grande plano azul, fazia-me sonhar, fazia-me ir além de, fazia-me, como aquela música diz, acreditar que eu era capaz de voar.

Senti uma vontade enorme de descobrir coisas novas, de desvendar mistérios, sentir sensações únicas, cheirar outros aromas… “Ai, como era bom ser livre como aquele pequeno avião” – supôs eu.

Pensei ir talvez ao aeródromo ver como tudo funcionava ou ainda, tentar andar num aparelho daqueles. Mas desisti da ideia. Era em vão. Voltei, novamente, á minha varanda, ao meu puff e á minha má disposição.

Fechei os olhos e comecei a recordar-me nos tempos em que, na minha cabeça, eu era capaz de mudar o mundo, de fazer a diferença, pensando que, esta minha simples presença no universo não fosse só uma passagem inútil. Lembrei-me dos meus tempos de pequenez, onde tudo era perfeito no meu mundo. Era livre á moda das crianças, que têm sempre alguém ao lado para as socorrer quando, por exemplo, caiem. Enquanto eu, tu, ele ou ela não temos ninguém para nos ajudar quando nos “aleijamos”. Ou melhor, temos. Mas quando menos esperas, essa pessoa que tinha a incumbência de te socorrer, deixa de ter a mão estendida para o teu auxilio. Deixa-te para trás, como se de um boneco cuidasse.

Voltei, repentinamente á minha varanda, sacudindo estes pensamentos da minha cabeça pesada. Coloquei os auriculares do meu mp4 nos ouvidos e comecei a ouvir a minha música. Dei por mim a querer fechar os olhos sentindo o sol ardente a “tostar” a minha pele. Deixei-me ir. Deixei-me adormecer naquela tarde de primavera onde tudo parecia fascinante.
Por fim, adormeci e entrei na terra dos sonhos, onde tudo é fantasia, produto da imaginação, cuja verdade e mentira, não entram. Não fazem parte.




“ (…) Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. (…) ”
Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego, Planeta DeAgostini