sábado, 28 de março de 2009

(Sem título)

Naquele dia, estava significativamente de mau humor. Não sabia porquê ou desde quando. Simplesmente estava com má disposição e, não me apetecia ver, ouvir ou falar com ninguém. Queria estar sozinha. Apenas isso.

Fechei a porta do meu quarto, abri a sacada da minha varanda e, sentei-me no meu puff transparente para me distrair um bocado. Olhei para o horizonte, para aquela linha fina que delimita a realidade e o sonho, e vi que na pequena pista do aeródromo estava a descolar uma avioneta. Era uma avioneta normal, de cor vermelha com umas riscas brancas em ambas as asas. Sabia que, aquela avioneta que estava sempre a esvoaçar por aquele meu céu, era uma avioneta vulgar, igual às outras. Só que naquele momento, o tal avião de pequenas dimensões, parecia que tinha algo mais. Deparei-me que aquele pequeno ponto vermelho sobre o grande plano azul, fazia-me sonhar, fazia-me ir além de, fazia-me, como aquela música diz, acreditar que eu era capaz de voar.

Senti uma vontade enorme de descobrir coisas novas, de desvendar mistérios, sentir sensações únicas, cheirar outros aromas… “Ai, como era bom ser livre como aquele pequeno avião” – supôs eu.

Pensei ir talvez ao aeródromo ver como tudo funcionava ou ainda, tentar andar num aparelho daqueles. Mas desisti da ideia. Era em vão. Voltei, novamente, á minha varanda, ao meu puff e á minha má disposição.

Fechei os olhos e comecei a recordar-me nos tempos em que, na minha cabeça, eu era capaz de mudar o mundo, de fazer a diferença, pensando que, esta minha simples presença no universo não fosse só uma passagem inútil. Lembrei-me dos meus tempos de pequenez, onde tudo era perfeito no meu mundo. Era livre á moda das crianças, que têm sempre alguém ao lado para as socorrer quando, por exemplo, caiem. Enquanto eu, tu, ele ou ela não temos ninguém para nos ajudar quando nos “aleijamos”. Ou melhor, temos. Mas quando menos esperas, essa pessoa que tinha a incumbência de te socorrer, deixa de ter a mão estendida para o teu auxilio. Deixa-te para trás, como se de um boneco cuidasse.

Voltei, repentinamente á minha varanda, sacudindo estes pensamentos da minha cabeça pesada. Coloquei os auriculares do meu mp4 nos ouvidos e comecei a ouvir a minha música. Dei por mim a querer fechar os olhos sentindo o sol ardente a “tostar” a minha pele. Deixei-me ir. Deixei-me adormecer naquela tarde de primavera onde tudo parecia fascinante.
Por fim, adormeci e entrei na terra dos sonhos, onde tudo é fantasia, produto da imaginação, cuja verdade e mentira, não entram. Não fazem parte.




“ (…) Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. (…) ”
Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego, Planeta DeAgostini