quarta-feira, 1 de abril de 2009

Quarto Escuro

Naquele dia, á noite, o meu quarto estava soberbamente escuro. Eu notei que tinha algo de errado, só que, não me incomodei. Pensei que o errado estava na minha cabeça. Enganei-me!
Mais tarde, no fim de fazer tudo o que tinha para fazer, deitei-me e notei que a minha cama estava mais fria que nos outros dias. Pensei:”É do tempo”, e virei-me para o outro lado, sabendo que, ainda, havia alguma coisa de errado naquele espaço.
Quando estava no meu segundo sono, acordei sobressaltada sentindo que alguém me tinha acordado de uma maneira pouco invulgar. Acendi a luz do meu quarto e segui ate ao corredor. Como era de esperar, não havia nada de mal. Mas mesmo sem ver nada, sabia que alguma coisa não batia certo.
Voltei para a cama e tentei adormecer. Quando estava quase a adormentar, senti uma brisa gélida como que se alguém tivesse a soprar para a minha direcção. Pus-me, literalmente, por baixo dos lençóis e afastei a ideia de ter mais alguém no quarto, sem ser eu.
No fim de acordar, novamente, com a tal brisa fresca no meu rosto decidi fervorosamente acender, outra vez, o candeeiro para verificar a tal sensação estranha. Mais uma vez não vi nada. Ao repetir o movimento de ir em direcção á minha cama, vi um vulto. Fiquei imobilizada. O meu instinto foi chamar alguem, só que, para meu pavor, não conseguia abrir a boca para respirar quanto mais para gritar por socorro.
A imagem vinha na minha direcção. Cada vez mais perto, cada vez mais nítida. Ao se aproximar, averiguei que o tal vulto tinha semelhanças com uma certa pessoa. Ainda não sabia com quem, mas ao mesmo tempo que se aproximava eu verificava que essas semelhanças eram de uma pessoa que eu conhecia bem e há bastante tempo. Essas parecenças eram… minhas!
Ao constatar essa situação, fiquei ainda mais paralisada do que eu já estava. O cabelo, as mãos, a estrutura era tudo igual a mim. Só a única coisa que não era idêntico eram os olhos. Os olhos dela, ou melhor do vulto, eram tristes. Estavam vazios, cheios de tristeza profunda. Estava com um ar pálido, parecia que ia a desmaiar a qualquer instante.
Eu, no fim do nervosismo passar, perguntei:
- “O que és tu? Ou melhor, quem és tu?”
- “ Não me estas a reconhecer?”
- “Sim estou. Tu és… eu??”- eu nem queria acreditar que tinha dito tal coisa.
- “Sim sou tu, mas com uma feição mais amarga.”
Eu não quis acreditar que eu estava a falar com uma “pessoa” igualzinha a mim, ou melhor, eu estava a falar comigo própria!?
- “Ok, se tu és eu porque que estas aqui?” – perguntei eu a mim mesma.
- “ Estou aqui para te provar que toda a gente tem um lado menos bom e que tu não és excepção”.
Desde o momento que comecei a falar com “ela”, eu não quis acreditar. Afinal a estranheza que eu senti desde inicio era verdadeira. Era tudo causado pelo aquele outro eu.
No fim de estar a falar com aquela criatura, se é que posso chamar assim, reparei que “ela” não era prejudicial. Simplesmente queria falar com alguém, desabafar, contar os seus problemas. Todas as pessoas precisam disso. No entanto, eu sabia que “ela”me queria contar alguma coisa mas que não conseguia.
- “Queres me contar alguma coisa?”
- “Como é que sabes?”
- “ Não te esqueças que tu és eu ou eu sou tu. Já não sei. E que quando quero contar alguma coisa, trinco o lábio e não paro de abanar o pé. E tu estas a fazer exactamente isso.”
- “Pois…” – diz “ela” a sorrir – “É assim, eu vim aqui ter contigo, para te dizer uma coisa.”
- “Sim…”
- “Bem, eu sou o teu futuro.”
- “És o meu futuro? Como assim?”
- “Eu sou tu daqui a alguns anos.”
- “Deixa ver se percebi, eu vou estar assim, como tu, daqui alguns anos?”
- “Sim vais. Vão acontecer coisas que vão mudar a tua maneira de ser, a tua maneira de agir. Mas tu podes mudar isso.”
- “Posso? Como?”
- “Isso eu já não sei. Já não me compete a mim.”
- “Então porque que me estas a dizer isso?”
- “Porque tu ainda podes mudar o teu futuro. Podes pensar nas consequências dos teus actos, e assim muda-los. Ainda que, no passado não podes mexer. Tens que viver com o que fizeste. Por isso é que te estou a avisar, por isso é que vim ter contigo para não seres como eu.”
-“ Já percebi. Mas o que é que vai acontecer?”
- “Isso não sei. Já te disse. Só sei que podes e tens que mudar o teu futuro. Pensa muito bem no que vais fazer, nas atitudes que vais tomar. Porque só assim é que vais ter o teu futuro garantido.”
No fim de “ela” ter dito isto, virei-me e, quando voltei a posição inicial, “ela”, tinha desaparecido como um fechar de olhos. Procurei-a dentro do meu quarto enquanto pensava no que ela tinha dito, pois na vida real isto era impossível de acontecer.
De seguida, abri os olhos e reparei que o despertador do telemóvel estava a tocar e foi quando constatei que tinha sido uma fantasia. Uma fantasia onde a nossa consciência, quando nós não a queremos ouvir, se encaixa nos nossos sonhos para nos fazer voltar a realidade. E assim, cada vez que eu tenho que tomar alguma decisão, penso na outra Rita e como ela era/é. Penso que não quero ter aquele ar de abatimento como “ela” tinha; Não me quero sentir como ela se sentia.

O teu futuro é feito por TI!

5 comentários:

Afonso Arribança disse...

Texto perfeito! Acho que todos deveríamos tirar lições do passado. Mas muitas vezes batemos vezes sem conta com a cabeça... :/
Um beijinho*

al disse...

só te digo: vive o presente. pensa no que aí vêm, sim, e reflecte sobre as tuas escolhas. mas vive. e nunca te esqueças de sentir.

:) *

Sofia disse...

Gostei do final :D *

Leo Mandoki, Jr. disse...

gostei..realmente gostei...Durante um bom tempo da leitura estive a pensar «é um ensaio psicologico que mostra a actual fase que ela esta a atravessar», mas dps, quase pro fim, supreendi-me com a mudança brusva de ânimo do texto..em um so texto foste TU completa....ainda magoada e fragilizada pela vida, mas ao mesmo tempo FORTE e determinada...
..
gostei
gostei mesmo!
BEIJOS

Leo Mandoki, Jr. disse...

...qnd começas a dizer que podes mudar o teu futuro...pensei q fosses entra num estado depressivo e de repente vens com essa mudança brusca de atitude...gostei disso